segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Senso de convivência


Diário do Nordeste


23/11/2010
Editorial do Diário do Nordeste discute a falta de acessibilidade em locais públicos
da Redação
Constata-se, no cotidiano da maioria da população, a falta de preparo existente, no sentido de se relacionar com detentores de algum tipo de deficiência física, quer seja ela motora, visual e auditiva, quer seja, mental ou múltipla. Além da falta de informações ou, algumas vezes, por uma explícita má vontade a respeito da necessária e adequada atenção para com os portadores de necessidades especiais, são igualmente chocantes as irregularidades e empecilhos à locomoção que aparecem em locais públicos e privados de Fortaleza, desde praças, ruas, avenidas, parques, prédios de repartições e veículos de transporte coletivo até hotéis, restaurantes, bancos, teatros, cinemas e polos de lazer.


Com frequência, podem ser encontrados banheiros públicos sem adaptações nas medidas certas e nem barras de apoio; inexistência de rampas; mesas de restaurantes sem altura suficiente para o encaixe de cadeiras especiais; prateleiras de supermercados inacessíveis, até mesmo para o alcance dos sacos plásticos de embalagem; botões de elevadores e maçanetas de portas com localização bastante elevada. A família que possui em casa um membro com necessidades especiais sabe o quanto ele sofre com essas coisas. Alvos de constantes reclamações são os pisos das calçadas de Fortaleza, a maioria deles em situação deplorável, com uma incômoda sucessão de imensos buracos, pedras soltas e mudanças bruscas de nível. Garantir o acesso aos especiais, nas mais diversas circunstâncias, não constitui, entretanto, o único problema. Bastante incompreensíveis e injustificáveis são também os descuidos e desatenções proporcionados no trato corriqueiro, até mesmo por prestadores de serviços, como se os portadores de necessidades, entre os quais se incluem os idosos, representassem um estorvo ao funcionamento normal das coisas. Tal omissão está presente em todas as classes sociais, inclusive naquelas em que se espera existir um nível mais aprimorado de educação e senso de convivência.


É certo, porém, que os mais prejudicados no cômputo geral são os pertencentes às classes menos favorecidas economicamente, obrigados a usar transportes coletivos, os quais, além de não oferecerem as necessárias condições de acesso, parecem ter quase como norma não atenderem aos sinais de parada formulados por passageiros que apresentam sinais evidentes de carências físicas ou idade avançada.


Sob outro aspecto, psicólogos alertam que os portadores de necessidades especiais não gostam de ser tratados com uma espécie de piedade mal disfarçada. Essa atitude pode afetar seu grau de estima pessoal ou enfatizar-lhes uma condição excludente nos trâmites normais da convivência social. Desaconselha-se, por exemplo, falar aos gritos com um portador de deficiência auditiva, empurrar uma cadeira de rodas como se seu ocupante fosse um objeto inerte, ou inquirir levianamente sobre as causas de uma deficiência.


O fundamental, em qualquer circunstância, é a adequada aplicação prática de elementares princípios de solidariedade humana, tanto advindos de particulares quanto por parte de responsáveis pelo poder público, aos quais também são imprescindíveis maciças doses de sensibilidade e compreensão para com o próximo.

http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=30594

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